Esse blog em algum momento sempre para. E, além disso,
demora pra voltar – chega a ser meio místico, tem seu tempo particular que não
encaixa no calendário. Talvez por termos consciência disso, ele nunca morre e
em algum momento ele sempre acaba voltando! E, pegando esse gancho, nada mais apropriado
para iniciar a resenha dessa banda do que estourar para o ar a ideia de
resistência! Sendo assim, aproveitando essa introdução recheada de exclamações,
falarei (ou pelo menos tentarei) da banda paulistana Ferramenta.
Normalmente quando uma banda é apresentada, antes de qualquer coisa é comum tentar enquadrar ela num determinado estilo, ou em alguma influência mais visível. Aliás, em boa parte das vezes as resenhas se resumem exclusivamente a isso.
É mais fácil, pois gera uma neutralidade cômoda, e tudo que é mais fácil e rápido fica mais atrativo! Às vezes por preguiça, outras por corporativismo, algumas por questões financeiras. Enfim, a lógica da produtividade se dá bem com modelos pré-fabricados. E isso não nos exclui disso, é claro!
Fazemos parte dessa cultura, mas nesse caso, confesso que dentro do confortável exercício de classificação, tive uma grande dificuldade de encaixar a banda em alguma influência pontual que saltasse à percepção logo de cara. Com algum esforço cheguei a uma conclusão: reduzindo as coisas a uma palavra, o que me veio à cabeça quando penso nos caras, é a ideia de originalidade (pelos menos dentro do meu universo de conhecimento musical, que não é tão profundo assim). Eles possuem um estilo bem próprio, quando boto o som pra rolar a lembrança que me vem normalmente é uma mistura de diversos momentos da história do rock, não necessariamente um tão distante do outro. Como em um liquidificador, diria que os ingredientes iniciais a serem triturados estariam numa ordem que começa do Hardcore, caminhando até um apanhado de Black Sabath, Motorhead e Fugazi chegando finalmente a um tom punk com a típica sujeira melancólica comum ao grunge. E falo isso com a consciência que estou dando pela minha cabeça influências que eles próprios não me disseram.
Saindo um pouco do mundo das árvores de parentesco, é hora de pensar sobre os conteúdos e ideias que aparecem com mais frequência dentro das escolhas feitas pela banda. O nome já explica por si só e dá o tom do que vem pela frente. As escolhas estéticas visuais, na grande maioria das vezes, possuem as tintas carregadas de vermelho, e as imagens selecionadas normalmente fazem menções ao cenário urbano com referências ao universo da luta popular. Entrando no site, de cara encontramos uma imagem animada em que as ferramentas manuais atacam ícones cosmopolitas. Com isso já fica evidente a noção de luta de classes e em que lado do muro os caras estão posicionados. Com certeza não é em cima, e isso já diz o que virá nas letras! Não é um mero acaso a data de fundação ser 1º de maio.
Em um apanhado geral das letras, encontramos essa sincronia
precisa entre as escolhas visuais e sonoras.
Nessa sintonia, o trabalho manual acaba sendo inseparável do trabalho
intelectual! A técnica – que percebemos na imagem mencionada acima– não se
separa da arte, e essa junção é representada como uma arma poderosa para
mudanças.
Seu primeiro compacto, lançado em vinil de 7” lançado pelo
selo desconstrução discos, possui 6
faixas com letras bastante bem trabalhadas, em que se misturam referências
literárias, políticas (siempre a la izquierda!) e expressas como um grito de
protesto e resistência.
A primeira faixa encontramos uma porrada oferecida ao Poeta
Paulo Leminski , praticamente uma releitura de uma estrofe (simbólica dentro da
resistência contra os anos de chumbo) do poema “Incenso fosse música”.
isso de querer
ser exatamente aquilo
que a gente é
ainda vai
nos levar além
Durante as outras faixas já notamos temas como resistência
(Punhos em riste/o povo resiste), menções ao acirramento da desigualdade social
(o mundo em desnível/ a crise é visível); o elogio à desobediência contra a
decadência do mundo ocidental ( os muros da cidade/anunciam decadência/ denúncias
em silêncio/desobediência); reflexões sobre a necessidade da constante
desconstrução de modelos fixos e sólidos (descontrói/tudo que é sólido/é
mentira); uma aproximação com o ateísmo, aqui vai sua contribuição contra a
religião(eis aí/ o ópio do povo); e pra finalizar, a reflexão sobre o “dilema”, com uma temática mais filosófica sobre a indecisão de saber se as coisas serão
melhores com ou sem determinado objeto, se vale a pena desistir ou se é
necessário correr atrás.
O Ferramenta atualmente é constituído por André na guitarra, Regis Munhoz na bateria, Raphael Sanz no baixo e Alonzo Chascon nos vocais.
Áudio online, download e outras informações:
Contato:
ferramentabr@gmail.com
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