25 de out. de 2013

“O microfone é a revolta, uma arma na mão[...]


Em uma tarde qualquer, com os pés na ladeira da vila, no conforto do capuz erguido, sacando da mochila o rádio, a lupa no olho e os fones de ouvido.  Deixando as rimas e as palavras de contestação soar após o play do álbum “Da Rua pra Rua” do Asfixia Social. Eis o roteiro musical que certamente vai disparar o sentimento de que a rua é território nosso! É mais ou menos essa a impressão que tive ao ouvir o Asfixia pela primeira vez (e é a que tenho até hoje, pensando bem)!

Mais uma voz da periferia, do subúrbio, rimada por e para quem vive a realidade das quebradas. Não, não são aqueles que pensam em “vanguardas”, que falam do alto das suas torres de marfim de um povo idealizado, quase desconhecido!  É o grito de quem tá lá, lado a lado. Um ataque sonoro, com palavras afiadas fugindo totalmente do estilo clichê e do senso comum, aquele tão conhecido e típico das bandas de rebeldia diluída (quase aguada) no caldo aceitável dos interesses comerciais da indústria musical, classificadas (leia-se vendidas) como “rock nacional”. Sabe aquelas críticas vagas a temas genéricos que jamais atacam os verdadeiros causadores do problema? Aquelas palavras que atacam de leve, por exemplo, a corrupção, mas não dão nome aos bois porque afinal, amanhã esses bois podem trazer algum benefício? Pois então, esse tipo de reformismo temático passará longe das escolhas do Asfixia Social. Ao contrário, a pancada é direcionada para um lado bem definido. É a rua contra a propriedade privada, principalmente daqueles que vivem em cárcere privado reféns de seu próprio egoísmo. Posicionam-se claramente ao lado do trabalhador contra as elites. Como dito na letra, são “OS MILITANTES DE ANTONIO, DE CANUDOS E ZUMBI”! Essa ideia já tá mais do que explicada nos versos de cada faixa, resumindo “a voz é uma bomba, certeira, sincera” direcionada contra o “ladrão no estilo executivo”, ao jornal que “só fala bosta em rede nacional”, “a madame do Itaim que nunca viu a pele escura”, “o Camburão dos homicida, dos polícia ladrão”, ao fascista, ao racista, ao patrão, ao opressor, etc.


Além dos versos, o embate entre opressor x oprimido está também expresso nas escolhas visuais do disco e dos videoclipes. Analisando a capa, em uma extremidade está posta a imagem que representa a periferia, e na outra, o cenário urbano representado por um amontoado de arranha céus. A periferia propositalmente está na parte superior e a “cidade” posicionada de cabeça para baixo, o que necessariamente chama a atenção para a ideia da questão dos pontos de vista, reforçando a ideia que o discurso hegemônico conservador sempre coloca as regiões centrais como protagonistas e a periferia como uma extensão submetida a esse centro. Na capa, essa escolha sugere que esse ponto de vista seja invertido, e consequentemente, fica subentendido que quem dá as cartas por aqui são as quebradas. É questão de visão, essas escolhas chamam atenção para o fato de que a periferia tem vida própria e não precisa sobreviver sob a tutela de terceiros.  Saindo do meio dessa divisão, aparece a figura de um guerreiro indígena “Enauenê-Nauê” com uma máscara de gás e com o punho erguido (dois símbolos de resistência popular).  Trata-se da representação da cultura indígena massacrada física e culturalmente pela cultura ocidental e branca, da mesma forma que a cultura das ruas, e de como ambas resistem a esse constante ataque. Essa imagem pode ser lida como a apresentação da estética do Asfixia Social no geral, em todos os aspectos: as minorias ressurgindo do submundo, do underground e batendo de frente com quem as explora há séculos. A afirmação da força da periferia através da cultura!


Passando para a parte sonora, as letras e a música são colocadas de forma incisiva pelo vocal (Kaneda) que as interpreta de forma quase teatral (no bom sentido). É o tipo de trilha que lança uma energia que pode funcionar como uma espécie de expurgo dos medos e frustrações impostos pela violência do cenário urbano caótico. O Asfixia está aí para dizer que você não é excluído quando não pretende fazer parte do mundo daquele que te exclui.
Os caras são uma das poucas bandas nacionais com letras em português que conseguem misturar em sua sonoridade diversas influências musicais sem soar de maneira caricata e/ou forçada. Dessa maneira, consegue alinhar de forma certeira letras políticas e críticas sociais, expostas de forma lúcida, deixando claro o conhecimento sobre nossa própria história e demonstrando uma percepção aguçada de nossa atualidade.


Nisso tudo, fazendo aquele velho exercício de comparação, dá para separar quatro aspectos próximos a outras bandas mais antigas: primeiro, a acidez e agressividade política de um Rage Against the Machine; soma-se a isso a facilidade de sintetizar os diversos sons que vem da rua em uma coisa só como o The Clash muito bem fazia; depois passando por uma apresentação ao vivo intensa e performática ao vivo que bastante lembra o Chico Science & Nação Zumbi; e finalmente o conhecimento de causa característicos dos clássicos do Punk/Hardcore e do Hip-Hop nacional.  Acrescentando nessas referências o peso dos ritmos jamaicanos, a resistência própria da periferia, a desobediência própria da contracultura, a agressividade do hardcore, a tradição das raízes africanas e a força típica do Nordeste. Tudo isso misturados em ritmo, poesia e guitarras distorcidas. Aí está mais ou menos a síntese do que é o Asfixia Social. Toda rebelião tem sua trilha sonora, e o som do álbum “da rua pra rua” pode ser considerado como um sério candidato para embalar impulsos de revolta contra as inúmeras injustiças! Se o som é “Rap, Punk, HC ou Batucada”, pouco importa, o importante é que o som é das ruas e é sem fronteira demarcada!




Site oficial:
http://www.asfixiasocial.com.br/

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Canal no Youtube:
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Dowload do Albúm “Da rua pra Rua”
www.mediafire.com/?gotqd2xcgg2k

Um comentário:

Unknown disse...

banda muito fera!! ótima matéria!!